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26ª Bienal
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Site da Fundação Bienal de São Paulo

VERA MANTERO

Biografia
Sobre o artista
Sobre a obra
Leitura do artista


Como você se situa como artista?

Sou coreógrafa, bailarina e performer. Na verdade, sou uma pessoa que atua ao vivo.[Voltar]

Você tem uma formação clássica?

Tenho. Aos 18 anos eu terminei minha formação clássica e passei para a dança mais moderna ou contemporânea.

Você participou do corpo de baile do Gulbenkian?

Sim. Situo-me numa zona da dança experimental contemporânea. Não sou mainstream.

Fale sobre seu trabalho apresentado nessa Bienal.

É um trabalho pra mim muito peculiar, muito fora do comum em todos os aspectos, espacialmente e em termos de apresentação, pelo fato de não ter um público que pode se concentrar realmente só no que estou a fazer em função da existência de elementos dispersivos. Isso é completamente diferente do que eu costumo praticar...

... No teatro, no palco...

... Exatamente. Também estou acostumada a trabalhar o espaço de outra forma.

Quais as relações entre seu trabalho e o tema desta Bienal, Território Livre?

Olha, eu sinto que o tema tem muito a ver com o que eu faço ali. Aquela criatura que eu ponho ali tem muita liberdade... apesar de estar constrangida pela cadeira, por aquela peça, na verdade acho que ela está livre de muitos constrangimentos a que nós estamos normalmente sujeitos. Ela está muito exposta, aberta e disponível para as vibrações presentes ali. Então, nesse sentido, acho que está num território muito livre.[Voltar]

Quais procedimentos ou processos foram necessários para a construção e concepção do seu trabalho?

Uma parte do processo foi realmente comunicar-me com o Rui Chafes e informarmos um ao outro nossas idéias. Isso criou muitas possibilidades na minha cabeça. Na verdade, para mim um grande método de trabalho é fazer associações livres entre idéias... isso põe o imaginário a funcionar, gera novas idéias não só para imagens como também para processos de trabalho. Depois, parte do meu trabalho também tem muito a ver com explorar materiais através de minha própria interpretação, que eu filmo e depois observo. Aproveito algumas partes, jogo fora outras. Trabalho muito através da improvisação.

A filmadora substitui o tradicional espelho do ballet?

Sim, exatamente. Substitui o espelho, a escrita, a anotação, a partitura...

A partitura da dança?

Há a partitura da música, que se conhece melhor, e há também a partitura da dança, que normalmente mesmo os bailarinos e coreógrafos não costumam usá-la, nem sabem escrever nela. Quase ninguém aprende essa escrita na dança. Então o vídeo veio um pouco substituir também essa escrita, porque ela é necessária, e também a primeira coisa que disseste...

O espelho?

O espelho, exatamente.

É nesse processo que você vai concebendo os movimentos?

Exatamente.

Você se considera uma criadora de movimentos, como uma coreógrafa?

Eu não me considero muito uma criadora de movimentos. Considero-me mais uma criadora de imagens em movimento, mais do que movimentos do corpo.

Quais questões esse seu trabalho pode trazer para ampliar a formação artística e a discussão estética do público, principalmente o escolar, formado por crianças e jovens?

Quase ninguém percebe o fato de ter muita música nessa peça que eu produzo com a voz.

Tem Handel no repertório?

Sim, e tem também outros sons meio improvisados; quer dizer, foram improvisados mas eu os aprendi. É uma obra de artes plásticas que não só tem movimento, que é o que as pessoas normalmente percebem – o movimento que faço –, mas também tem voz, tem som, tem música e pra mim acho que o que pode ampliar qualquer coisa em termos estéticos e artísticos é uma fusão de escultura com movimento e com som, e a existência desse objeto é muito fora do comum, não é? Portanto acho que o que pode ampliar a formação artística mesmo é a quebra de idéias disciplinares, como diz Alexandre Melo (curador da obra). Talvez seja a coisa mais importante das pessoas lembrarem: pode-se atravessar as fronteiras disciplinares e fazer cruzamentos, misturas... isso é possível...

E conceber um trabalho de arte, fazer arte...

Sim.

Os professores e monitores estabelecerão um diálogo, uma mediação, entre sua obra e o público. Que questões você considera importantes para a leitura do trabalho? Sobre o que você gostaria que eles falassem?

É super importante esta pergunta.
Para mim é importante, em termos de performance, ser uma criatura que está alientre o pensamento e a intuição, entre o consciente e o inconsciente, passando por estados de fruição de pensamentos mais conscientes e estados mais inconscientes de pura vibração, pura intuição... curto-circuito, talvez essa seja uma idéia interessante. Talvez, também, a minha performance atravesse o que chamo de várias estações: tem a estação em que estou toda embrulhada a cantar o Handel, tem a estação dos passarinhos, tem a estação de rasgar... é como se atravessasse todo um ciclo de estações que estão sempre entre a tal consciência e a tal inconsciência.[Voltar]

Entre?

É, para mim a melhor palavra é “entre”.

Uma pergunta extra que também fiz para o Rui: por que “Comer o coração”?

Comer o coração é um título do Rui. Ele escolheu bastante, eu não disse nada, mas não é um título que me diz muito, na verdade. Porque o que eu sinto, o que faço, é o oposto de comer o coração... eu vomito o coração. Para mim comer o coração é engolir os sentimentos, é ficar bloqueado. Sinto que dou uma resposta em oposição ao título.[Voltar ao início] [Versão para impressão]

     
ARTISTAS
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