Como você se situa
como artista?
Meu trabalho aborda temas como as interseções e fronteiras entre
o ser humano e os seres não-humanos, bem como as transformações
filosóficas e culturais em um contexto tecnológico global. No fundo,
o grande tema é o fenômeno da comunicação em seus
múltiplos sentidos.[Voltar]
E como se situa dentro de seu contexto/país e na contemporaneidade?
Meu país é o planeta e a minha casa é a rede.
Fale um pouco sobre seu trabalho apresentado nesta Bienal.
"Move 36" faz referências ao dramático movimento feito
pelo computador chamado " Deep
Blue" contra o campeão mundial
de xadrez Gary
Kasparov em 1997. Essa competição pode ser caracterizada
como uma disputa entre o maior jogador de xadrez vivo e o maior jogador de xadrez
não-vivo. A instalação ilumina os limites da mente humana
e a capacidade crescente de computadores e robôs, seres inanimados cujas
ações freqüentemente adquirem uma força comparável à subjetiva
ação humana.[Voltar]
Mais informação
aqui.
Quais as relações deste trabalho com o tema da Bienal?
A
arte é o território livre por excelência.
Quais procedimentos
ou processos de trabalho foram necessários
para a
construção de sua obra?
A instalação apresenta um tabuleiro feito de terra (quadrados negros)
e areia branca (quadrados claros) no meio da sala. Não há peças
de xadrez no tabuleiro. Posicionada exatamente onde o Deep Blue fez o seu "Lance
36" está uma planta cujo genoma incorpora um novo gene, que eu criei
especialmente para esse trabalho. O gene usa ASCII (o código universal
do computador, empregado para representar o número binário como
caracteres romanos, online e off-line ) para traduzir a afirmação
de Descartes: Cogito ergo sum ( "Penso, logo existo" ) nas
quatro bases da genética (A, C, G, T).
Através de modificações genéticas adicionais as folhas
das plantas se curvam. Em um ambiente selvagem essas folhas seriam planas. O "gene
cartesiano" foi agrupado com um que causa essa escultural mutação
na planta para que o público possa ver, a olho nu, que o "gene cartesiano" é expresso
precisamente onde as folhas se torcem e ondulam.
O "gene cartesiano" foi produzido de acordo com um novo código
que eu criei especialmente para esse trabalho. No ASCII de 8bits, a letra C,
por exemplo, é representada desta forma: 01000011.O gene é criado
pela associação seguinte entre as bases genéticas e os dígitos
binários:
A = 00
C = 01
G = 10
T = 11
O resultado é o seguinte gene com 52 bases:
CAATCATTCACTCAGCCCCACATTCACCCCAGCACTCATTCCATCCCCCATC
A criação desse gene é um gesto crítico e irônico,
já que Descartes considerava a mente humana um "fantasma na máquina" (para
ele o corpo era uma "máquina”). Sua filosofia racionalistadeu um novo ímpeto tanto para a divisão corpo-mente (dualismo cartesiano)
como para os princípios matemáticos da atual tecnologia de computador.
A presença desse "gene cartesiano" nessa planta, enraizada precisamente
onde o ser humano perdeu para a máquina, revela um limite tênue
entre a humanidade, objetos inanimados dotados com qualidades semelhantes à vida
e organismos vivos que guardam informações digitais. Um único
feixe de luz paralelo brilha delicadamente sobre a planta. Projeções
silenciosas em vídeo em duas paredes opostas contextualizam o trabalho,
evocando dois oponentes de xadrez in absentia. Cada projeção
de vídeo é composta por uma grade de pequenos quadrados, que representa
um tabuleiro de xadrez. Cada quadrado mostra ciclos animados se movimentando
em intervalos diferentes, portanto criando uma complexa série de movimentos
coreografada cuidadosamente. O engajamento cognitivo do espectador com as múltiplas
possibilidades visuais apresentadas em
tabuleiros projetados sutilmente rivaliza o mapeamento dos caminhos múltiplos
no tabuleiro da partida de xadrez.
Quais questões este seu trabalho pode trazer para ampliar a
formação artística e a discussão estética
do público, principalmente do público escolar, formado por crianças
e jovens?
Ampliar a formação artística: todos
os meios existentes podem ser utilizados na criação de obras
de arte, pois não são estes que definem se um trabalho é ou
não arte.
Quanto à discussão estética do público:
pode-se apreciar a obra formalmente e também intelectualmente;
por fim, conjugar os dois tipos de apreciação.[Voltar]
Professores
e mediadores estabelecerão um diálogo entre
sua obra e os grupos visitantes. Que questões você considera importantes
que se aponte neste processo de leitura?
Sugiro que professores e mediadores leiam
o que escrevi depois de verem a obra.
A entrevista publicada
na Folha também pode ser útil.
Então, poderão
decidir o que julgam importante para seus grupos. Cada grupo irá naturalmente
preferir discutir diferentes aspectos da obra.[Voltar
ao início]
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