Como
você se define como artista?
Defino-me como um artista
contemporâneo que busca a capacidade
de compreender e poder lidar com qualquer tipo de conceito artístico
e modo de produção artística, desde o mais tradicional
- bidimensional ou tridimensional, pintura, desenho, escultura, instalações
ou performances. Minha obra toca vários pontos da arte contemporânea.[Voltar]
Você é um
artista que trabalha com diferentes mídias?
Exatamente.
Neste momento o que está aqui na Bienal de São
Paulo são especificamente desenhos/pinturas sobre linho. Em
princípio estes eram projetos para obras tridimensionais e
alguns já foram realizados tridimensionalmente.
Dentro
do contexto do seu país e da contemporaneidade,
aonde você se situa?
Eu penso que, por tradição
e pela escola de que venho, realmente tenho em meu trabalho bastante
do que acontece hoje. Minha arte de alguma maneira tem a influência
do contexto de meu próprio país, porém além
da tradição
há a intenção de fazer uma ponte constantemente
com o que se passa fora do país. Sempre crio obras com pontos
de contato com o público internacional.
Vamos falar
um pouco sobre o trabalho que você apresenta
aqui na XXVI Bienal.
Esta é uma série muito
grande de obras realizadas nos últimos 15 anos. Tenho produzido
ou feito referências
ao símbolo do avião e à idéia de decolagem
há vários anos, porém estas referências
sempre ocorreram de maneira muito dispersa. Aproximadamente de dois
anos para cá, com os últimos acontecimentos que têm
envolvido os vôos de avião, tenho me concentrado especialmente
nele. Em função de toda a força que é tomada
a partir de acidentes, de fenômenos históricos e políticos
graves, como foi em 11 de setembro, o avião vem se
tornando cada vez mais um símbolo muito controvertido, difícil. Às
vezes temerário. E a referência primitiva da liberdade,
acerca de Ícaro,
converte-se em uma referência de armistício,
uma bomba, uma explosão. Nestas minhas obras pretendi dar
um tratamento híbrido a
objetos comuns, banais, ordinários,
imediatos ao homem, como o avião. Tratando de, por um lado,
mudar a história que tem o avião como símbolo
e por outro lado desmistificar a história da sensação
de voar e a história do objeto com o qual o avião torna-se
híbrido. Em muitos casos, como aqui, em que ele se compõe
com uma baleia, uma limousine Chrysler, um hipopótamo... às
vezes há um jogo entre o pesado e o ligeiro, entre a política
e a liberdade; às vezes são referências que aparecem
na mesma obra, aspectos que de alguma maneira, poética, literária,
conceitual ou filosófica, fazem referência à idéia
que permeia a obra.[Voltar]
Quais procedimentos ou processos de trabalhos
foram necessários
para a construção de sua obra? Você experimentou
novas técnicas?
Minha obra não tem experimentações
técnicas.
No momento de construí-la acho importante já ter basicamente
estruturado seu formato e também haver experimentado antes
a sua técnica. A maioria de minhas obras segue um processo
de evolução que se inicia na idéia de um trabalho
pequeno em papel, que depois converte-se em grande formato; muitas
têm a sorte de tornar-se obras tridimensionais, em objetos
palpáveis, volumétricos. Este é aproximadamente
o processo.
Fantástico. Gostaria que você fizesse
uma leitura das suas obras que estão na Bienal. Você já falou
um pouco sobre isso. Quais questões estes seus trabalhos
podem trazer para ampliar a formação artística
e a discussão estética junto ao público visitante
da Bienal, principalmente o escolar, as crianças e os jovens?
Há muitas
coisas que são importantes dentro da leitura
de minhas obras. Por um lado há a reflexão acerca dos
símbolos que governam o indivíduo e que formam parte
da história da arte. No caso deste trabalho há especificamente
o símbolo do avião. A reflexão sobre este símbolo
e a sua representação estão aqui misturadas
com elementos conceituais que formam parte da contemporaneidade.
A arte latino-americana é uma grande etapa da história
da arte que faz muitas referências a fatos políticos,
culturais, etnográficos e que de alguma maneira também
se refletem em minha obra, ou seja, trabalho um pouco com referências
sobre o que está se passando. Porém de uma maneira
muito comprimida, digamos que simplificada, dentro do conjunto de
meu trabalho.[Voltar]
Qual é a sua formação?
Tenho uma formação
completamente variada. A escola em Cuba, nos anos em que estudei
lá, durava 12 anos. Começava-se
a estudar aos 12 anos de idade e seguia-se até os 23 anos.
Os primeiros anos da escola sempre são acadêmicos, básicos,
e os últimos cinco anos são puramente experimentais,
onde se tem a possibilidade de criar sua própria obra com
seus próprios recursos...
... com sua poética própria...
... e a partir
daí desenvolvê-la. Então, passamos
por toda a história clássica , a escola
moderna , a
pós-moderna e todo o conceitualismo contemporâneo sobre
a arte.
Os professores e os monitores que estão aqui
como educadores também estabelecem, de alguma forma, um diálogo
entre sua obra e o público visitante. Quais questões
você considera importantes que professores e monitores discutam
com o público, especialmente com alunos, em relação
ao seu trabalho?
Primeiro que faço obras de várias
maneiras e que o que está aqui na Bienal é parte
de um trabalho bidimensional. Este, porém, corresponde a
imagens de obras tridimensionais que se desenvolveram a partir
das pinturas que estão aqui.
Segundo, é uma obra que faz referência não à história
banal do avião, mas a algo controvertido da história
contemporânea: o avião enquanto símbolo e como
este vem influindo nos últimos acontecimentos históricos.
Esta obra que está aqui também referencia-se a obras
monumentais tridimensionais, mas em função de seu formato
ela também discursa dentro de pequenos espaços. [Voltar
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