Gostaria de conhecer
uma biografia resumida da sua vida como artista.
Eu sou
um artista francês. Cresci na França e minha
descendência é armênia. Eu entrei em uma escola
de artes na França e é isso.[Voltar]
Você começou
seus trabalhos já em vídeo?
Meu primeiro trabalho
foi fotográfico. Meu pai é fotógrafo
e eu cresci como se estivesse dentro de fotos. Mas, de verdade, meu
primeiro trabalho foi sobre cinema – cinema moderno – e
toda minha referência vem dessa mídia. Mas eu também
estudei outros conceitos e tento desenvolver meu estilo de trabalho
em cima disso e de filmes em preto e branco clássicos.
Eu me
baseio mais nessa noção de espaço e
tempo, que é bem arcaica, primitiva.
O trabalho que eu produzi
aqui é a representação
dessa idéia. Trata-se de seqüências de planos.
A
ação acontece em apenas um lugar e momento, mas
cada cena foi feita em diferentes lugares.
Quantos?
Sete. Assim, a ação no filme
acontece em um espaço
topográfico bem grande, mas as cenas convergem para um único
tempo e espaço.
É uma história sobre simultaneidade
e unicidade.
Claro que a palavra é o passaporte para
a globalização,
mas você tem a influência da sua cultura. Como ela
reflete-se no seu trabalho?
A cultura é filosófica
e no meu trabalho está presente
mais na narrativa. Você pode ver no filme todos os símbolos
trabalhando juntos; acho que minha linguagem vem daí e a cultura
está totalmente inserida nele.
Tem muita música nesse
filme. Tem um músico armênio
e também um japonês. Então, para mim, cultura é o
que fazemos todos os dias.
Eu sei de onde vim, mas não sei
para onde irei. Essa é uma
pergunta da vida, na verdade.
Seu trabalho é uma vídeo-instalação.
Quais são os procedimentos técnicos usados para a
criação quando você pensa na obra?
A
idéia de fazer esse trabalho já era antiga. Tive
há anos, mas não havia recursos possíveis para
viabilizá-la. A idéia da simultaneidade veio quando
eu trabalhava como editor de cinema, o que fiz durante 10 anos. Essas
questões apareciam sempre nas edições de filmes.
A
idéia de justaposição vem daí. Eu
a guardei e mais tarde a desenvolvi.
A
técnica é difícil,
mas não como aparenta.
Toda técnica parece mais complexa do que realmente é.
Foi
como colocar uma caixa de fósforos na mesa e sete pessoas
em volta. É a mesma coisa, mas vista de ângulos e posições
diferentes. Ninguém vê do mesmo jeito. O ângulo é outro,
a posição é outra. É simples.[Voltar]
Mas
as etapas são complicadas.
É verdade. Mas no
final o que você vai ver é bem
simples, eu acho.
Quais idéias você quer passar
através
desse trabalho?
Umas idéias metafísicas,
existenciais e filosóficas
de um ser e de um todo. Tudo é um. É como uma floresta:
tem árvores separadamente, com seus galhos entrelaçados
e ao mesmo tempo é um ser.
A melhor metáfora para isso é música.
O violino toca uma parte da peça, mas é seguido pelo
resto e assim a música é criada.
Eu acho que vivemos
assim, o que não é nenhuma novidade.
Nós já sabemos disso.
Tudo o que acontece, essa noção
de cultura, por exemplo, pode se misturar ou não.
O grande
marco dos anos 90 nessa área foram as metrópoles,
que sempre vêm produzindo a cultura almejada. Mas para mim
elas nunca criaram algo interessante de verdade. São fantasmas,
não realidade.
Para criar é preciso ter a noção
de que cada um é um ser, um indivíduo. Isso pode promover
um levante coletivo.
Para uma identidade coletiva se constituir são
necessárias
muitas identidades, seres únicos.
Mas também isso não é nenhuma
novidade, vem do humanismo dos anos 80. É a consciência
de quem eu sou, quem você é.
Uso a explosão no
filme como uma metáfora sobre a
explosão no sistema da identidade coletiva.
Nós sabemos
que o mundo não vai bem, mas precisamos
criar consciência disso e tentar entender o porque. A maior
complexidade, porém, está nos problemas políticos
e econômicos. Religião e imigração vêm
depois, além de muitas outras questões. E o que nós
podemos fazer é lidar com os fatos.[Voltar]
Outra metáfora
que você usa é sobre
o tempo e espaço serem tão diferentes hoje em dia
por causa da tecnologia, da internet, etc. ‘Estar aqui’ pode
não ser realmente estar aqui fisicamente; podemos nos comunicar
online com diferentes pessoas que estão em tempos diferentes
do nosso.
Fiz estudos com web cam e você realmente
pode compartilhar um momento, mas ele é virtual, não é realidade.
Pra mim isso aqui é completamente diferente. Eu me esforço
para ser realista.
Eu sou curioso sobre comunicação
virtual, internet. Acho que ela está se desenvolvendo de uma
maneira boa. Mas para mim o futuro é o passado, como a descoberta
de Marte, que trouxe a realidade sobre a Terra ter mais de 5 mil
anos. Isso foi há mais ou menos 50 anos atrás. Acho
que o futuro serve para explicar o passado. O que também não é nenhuma
novidade.
É importante para pensar no mundo.
Pra mim é uma
grande convergência de analogias. Nós
descobrimos, por analogia com Marte, a idade da Terra. E foi quando
descobrimos que não éramos únicos. Somos uma
unidade, mas não únicos isoladamente. Eu acho que nos
projetamos na identidade coletiva.
Qual sua expectativa com
o público brasileiro?
Estou curioso. Muito curioso.
Primeiro porque é a primeira vez
que esse dispositivo foi projetado. Quero ver como as pessoas vão
vivenciar a obra na sua parte física, mais que no conceito.
Conceitualmente podemos discutir depois. Vejo também que a cultura
de onde vim e a daqui são muito próximas. Bom, vamos
ver o que acontece. Estou curioso.
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