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26ª Bienal
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Site da Fundação Bienal de São Paulo
 

MELIK OHANIAN

Biografia
Sobre o artista
Sobre a obra
Leitura do artista


Gostaria de conhecer uma biografia resumida da sua vida como artista.

Eu sou um artista francês. Cresci na França e minha descendência é armênia. Eu entrei em uma escola de artes na França e é isso.[Voltar]

Você começou seus trabalhos já em vídeo?

Meu primeiro trabalho foi fotográfico. Meu pai é fotógrafo e eu cresci como se estivesse dentro de fotos. Mas, de verdade, meu primeiro trabalho foi sobre cinema – cinema moderno – e toda minha referência vem dessa mídia. Mas eu também estudei outros conceitos e tento desenvolver meu estilo de trabalho em cima disso e de filmes em preto e branco clássicos.
Eu me baseio mais nessa noção de espaço e tempo, que é bem arcaica, primitiva.
O trabalho que eu produzi aqui é a representação dessa idéia. Trata-se de seqüências de planos.
A ação acontece em apenas um lugar e momento, mas cada cena foi feita em diferentes lugares.

Quantos?

Sete. Assim, a ação no filme acontece em um espaço topográfico bem grande, mas as cenas convergem para um único tempo e espaço.
É uma história sobre simultaneidade e unicidade.

Claro que a palavra é o passaporte para a globalização, mas você tem a influência da sua cultura. Como ela reflete-se no seu trabalho?

A cultura é filosófica e no meu trabalho está presente mais na narrativa. Você pode ver no filme todos os símbolos trabalhando juntos; acho que minha linguagem vem daí e a cultura está totalmente inserida nele.
Tem muita música nesse filme. Tem um músico armênio e também um japonês. Então, para mim, cultura é o que fazemos todos os dias.
Eu sei de onde vim, mas não sei para onde irei. Essa é uma pergunta da vida, na verdade.

Seu trabalho é uma vídeo-instalação. Quais são os procedimentos técnicos usados para a criação quando você pensa na obra?

A idéia de fazer esse trabalho já era antiga. Tive há anos, mas não havia recursos possíveis para viabilizá-la. A idéia da simultaneidade veio quando eu trabalhava como editor de cinema, o que fiz durante 10 anos. Essas questões apareciam sempre nas edições de filmes.
A idéia de justaposição vem daí. Eu a guardei e mais tarde a desenvolvi.
A técnica é difícil, mas não como aparenta. Toda técnica parece mais complexa do que realmente é.
Foi como colocar uma caixa de fósforos na mesa e sete pessoas em volta. É a mesma coisa, mas vista de ângulos e posições diferentes. Ninguém vê do mesmo jeito. O ângulo é outro, a posição é outra. É simples.[Voltar]

Mas as etapas são complicadas.

É verdade. Mas no final o que você vai ver é bem simples, eu acho.

Quais idéias você quer passar através desse trabalho?

Umas idéias metafísicas, existenciais e filosóficas de um ser e de um todo. Tudo é um. É como uma floresta: tem árvores separadamente, com seus galhos entrelaçados e ao mesmo tempo é um ser.
A melhor metáfora para isso é música. O violino toca uma parte da peça, mas é seguido pelo resto e assim a música é criada.
Eu acho que vivemos assim, o que não é nenhuma novidade. Nós já sabemos disso.
Tudo o que acontece, essa noção de cultura, por exemplo, pode se misturar ou não.
O grande marco dos anos 90 nessa área foram as metrópoles, que sempre vêm produzindo a cultura almejada. Mas para mim elas nunca criaram algo interessante de verdade. São fantasmas, não realidade.
Para criar é preciso ter a noção de que cada um é um ser, um indivíduo. Isso pode promover um levante coletivo.
Para uma identidade coletiva se constituir são necessárias muitas identidades, seres únicos.
Mas também isso não é nenhuma novidade, vem do humanismo dos anos 80. É a consciência de quem eu sou, quem você é.
Uso a explosão no filme como uma metáfora sobre a explosão no sistema da identidade coletiva.
Nós sabemos que o mundo não vai bem, mas precisamos criar consciência disso e tentar entender o porque. A maior complexidade, porém, está nos problemas políticos e econômicos. Religião e imigração vêm depois, além de muitas outras questões. E o que nós podemos fazer é lidar com os fatos.[Voltar]

Outra metáfora que você usa é sobre o tempo e espaço serem tão diferentes hoje em dia por causa da tecnologia, da internet, etc. ‘Estar aqui’ pode não ser realmente estar aqui fisicamente; podemos nos comunicar online com diferentes pessoas que estão em tempos diferentes do nosso.

Fiz estudos com web cam e você realmente pode compartilhar um momento, mas ele é virtual, não é realidade. Pra mim isso aqui é completamente diferente. Eu me esforço para ser realista.
Eu sou curioso sobre comunicação virtual, internet. Acho que ela está se desenvolvendo de uma maneira boa. Mas para mim o futuro é o passado, como a descoberta de Marte, que trouxe a realidade sobre a Terra ter mais de 5 mil anos. Isso foi há mais ou menos 50 anos atrás. Acho que o futuro serve para explicar o passado. O que também não é nenhuma novidade.

É importante para pensar no mundo.

Pra mim é uma grande convergência de analogias. Nós descobrimos, por analogia com Marte, a idade da Terra. E foi quando descobrimos que não éramos únicos. Somos uma unidade, mas não únicos isoladamente. Eu acho que nos projetamos na identidade coletiva.

Qual sua expectativa com o público brasileiro?

Estou curioso. Muito curioso. Primeiro porque é a primeira vez que esse dispositivo foi projetado. Quero ver como as pessoas vão vivenciar a obra na sua parte física, mais que no conceito. Conceitualmente podemos discutir depois. Vejo também que a cultura de onde vim e a daqui são muito próximas. Bom, vamos ver o que acontece. Estou curioso. [Voltar ao início] [Versão para impressão]

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