Como você se situa como artista? Qual a sua trajetória?
Eu
fui criado praticamente dentro do atelier fotográfico
de meu pai. Estudava de manhã e à tarde ia para lá,
desenhava. Meu pai fazia ampliação de fotos, na época
era 3x4, não havia fotos coloridas.
Daí meu interesse
foi crescendo e a partir do final dos anos 60 comecei a desenvolver
os meus trabalhos com mídias, intervenções e propostas, coisas dentro da área conceitual. Nos anos 70
eu desenvolvi um pensamento e uma atividade com várias mídias,
vídeos e continuei com a fotolinguagem e a arte-correio, que
pra mim foi muito importante porque em pouco tempo o mundo sabia
o que eu pensava e eu sabia o que o mundo pensava através
desta troca de informações com artistas do mundo todo.
Eu
sempre trabalhei lá em Recife; morei um tempo fora quando
ganhei a bolsa da Guggenheim, em 1981, e em 1982 viajei para os Estados
Unidos. Mas continuo morando em Recife, desenvolvendo meu trabalho.
Não exponho muito. Eu sempre expus pouco individualmente;
lá fora, através da mail-art, expus um pouco mais porque
recebi convites. Nunca me preocupei com exposições,
me preocupo mais em desenvolver um trabalho sistemático.
Eu
trabalho muito em várias áreas. Tenho uma produção
em cada área e uma coisa está sempre interligada a
outra. É mais ou menos isto.[Voltar]
O fato de você ser um artista
brasileiro e ter um trabalho de comunicação com o mundo,
como isto repercute na sua produção? Como você se
situa hoje no contexto brasileiro da arte e como você se relaciona
com a arte contemporânea
como um todo?
Ultimamente é que aqui no Brasil, e principalmente em São
Paulo, tem se levantado um pouco do que eu fiz e têm surgido
algumas exposições. Isto de uns três ou quatro
anos pra cá. Eu continuo desenvolvendo minhas atividades,
produzindo e mandando muita coisa pra fora através de convites
e publicações. Continuo produzindo sem uma preocupação
com a crítica. Há poucas referências sobre meu
trabalho. Cristina Freire já terminou um livro que vai ser
lançado durante o período da Bienal. Será a única
publicação sobre a minha obra até hoje. Este
livro é bom para que as pessoas conheçam mais minha
trajetória, que é pouco conhecida porque não
me preocupo em expor e divulgar meu trabalho. A minha produção
está toda praticamente dentro do atelier.
Quais as linguagens
com que você trabalha?
Eu comecei com pintura, desenho
e gravura. Considero a gravura como um jogo de xadrez: no início é técnica,
no meio é mágica
e no final é técnica. Faço objetos e esculturas
também. Depois eu passei a trabalhar com happenings, isso
antes da performance e dos livros
de artistas,de que gosto muito.
Tenho uma produção grande de livros de artistas. É algo
que me fascina. Também tenho uma grande coleção
de livros de outros artistas.
Tem ainda a arte-correio e os trabalhos
conceituais, que englobam quase toda a minha obra com diversos projetos
e propostas. Fiz também
filmes de artista e videoarte nos anos 70. Também no início
dessa década produzi bastante xerografia e eletrografia usando
a xerox, o fax e a heliografia. Nos anos 80 fiz a primeira transmissão
em fax aqui no Brasil, de Recife para São Paulo. Eu em Recife
e Roberto Sandoval em São Paulo. A gente fez inclusive o projeto
de uma exposição que foi realizada em 1985 na FAAP,
na Brasil Multimeios.
Tenho um trabalho grande na área de poesia
visual e poesia sonora. Inclusive está sendo escrito um texto
por Adolfo Monteiro, no Rio de Janeiro. Ele é espanhol e está fazendo
um livro, que deverá ser lançado no início do
próximo
ano acompanhado de um CD-Rom.
Fora isso, trabalhei com fotolinguagem
nos anos 70. Hoje esse é um
termo pouco usado, mas naquele tempo era comum. A fotografia era
pouco explorada na época pelos artistas, mas era o que ficava
como registro, como obra. E mais trabalhos de sky-art, land-art,
experiências...
De qualquer forma, Paulo, hoje fala-se muito
em mistura de linguagem, está muito em voga esta questão
do hibridismo,
da dissolução
das fronteiras entre as linguagens, e você já faz isto
desde o final da década de 60/70.
Zanini, num texto
recente sobre a história da videoarte
no Brasil, cita meu trabalho como o pioneiro a trabalhar com a multimídia
na videoarte. É uma questão que você levantou
e que pouca gente conhece. Mas meu trabalho sempre teve esta interligação.
Eu sempre trabalhei com várias idéias, através
de várias mídias, quer dizer, uma idéia só trabalhada
simultaneamente em suportes ou mídias diferentes. Na época
eu mesmo fazia Super 8, fazia vídeos e projetava os dois simultaneamente.
Porque havia uma diferença de recursos, existia uma limitação
e eu tirava partido disso. A diferença entre o vídeo
e o filme pouca gente conhece. Toda vez que se abre o debate sobre
esta questão eu falo que não gosto quando a videoarte
ou vídeo de artista é longo, porque vira um filme de
verdade, fica cinema de verdade. Eu acho que o artista deve trabalhar
com uma idéia, sem muita preocupação com determinadas
questões técnicas porque isto o cinema já faz
muito bem. Meus filmes eu praticamente não editei. Estou sempre
mais preocupado com a idéia do que com a técnica, desvinculado
da filmografia tradicional. Para mim a idéia é fundamental.
Eu
pesquisei muito, criei o sistema de xerox-filme em 1980 na Universidade
Católica de Pernambuco e depois em 1982, em Nova Iorque, eu
tive condições de fazer xerox-filmes coloridos. A Xerox
de Nova York me abriu as portas para uma pesquisa.
O que aconteceu
com a máquina xerox depois que você fez
o filme?
Eu toquei fogo nela! Este é um fato curioso.
Zanini está abordando
também em seu texto este meu relacionamento corpóreo
com a máquina. Eu fiz a xerox-performance e depois fiz uma
experiência. Avisei ao pessoal que ia tocar fogo na xerox e
eles acharam que era uma brincadeira. Fiz uma ligação
direta na máquina; eu dominava muito bem o equipamento, como
acho que todo artista tem que dominar o equipamento com que ele vai
trabalhar.
Eu já fiz alguns textos sobre algumas mídias,
pesquisava equipamentos pra ver como é que eu podia obter
recursos. Como eu trabalhei com a xerox sacudindo um espelho, fazendo
um encadeamento através da luz, então com espelhos
e lentes eu devolvi uma luz pra ela e através deste processo
eu obtive efeitos de profundidade que normalmente não acontecem.
Nos meus filmes, já nos anos 70, eu fazia essas pesquisas
e em Nova Iorque eu tive condições de elaborar um equipamento
com um projetor de slides acoplado à xerox e a um vidro raiado,
lentes e coisas que eu comprava ali na. Desenvolvi um filme com um
slide vazio e uma linha que ia mexendo. Naquela época a xerox
tinha as três cores básicas, amarelo, magenta e azul.
Eu desregulava a máquina toda... consegui determinados efeitos
através
desta distorção e deste equipamento que eu inventei.
Em 80 eu toquei fogo na máquina xerox; este registro foi feito
e filmado quadro a quadro. Este trabalho mereceu uma crítica
elogiosa numa mostra de eletrografia na Alemanha.
Existem dois museus
de eletrografia no mundo, um na Espanha e outro na Alemanha. Todos
os dois fizeram referências a estas pesquisas
minhas na área de cinema com xerografia, porque até então
ninguém tinha feito. Nos anos 70 a primeira publicação
sobre o assunto, feita nos Estados Unidos, também faz referências
a estas pesquisas minhas sobre as distorções. Além
do fogo trabalhei também com animais, vegetais e com o próprio
corpo. Dei muitos cursos na universidade. Graças aos conhecimentos
de fotografia que tinha, vindos desde o atelier de meu pai, isso
facilitou muito meu domínio da xerografia, porque são
processos similares. A xerografia também começa líquida. É uma
coisa que eu gosto porque você nunca sabe como vai sair, é a
parte mágica do trabalho. Em Nova Iorque eu tive uma estafa
- Antoni Muntadas me chamava de Paulo Xerox - e fiz até um
desenho que dei para o gerente da loja da Xerox, que era uma copiadora
para artista com um banco acoplado. Eu começava de manhã e
só parava à noite, porque como era pra filme não
podia haver uma quebra. Tinha que fazer toda a seqüência
de duas mil cópias naquele dia. Eu desenvolvi ao extremo esta
pesquisa.
Vou concordar com Zanini Caldas:
você tem
uma relação
forte com o corpo. Você já se fotografou, tem as suas
radiografias, as interferências...
O corpo como obra
foi muito usado não só por mim mas
também pelos artistas da década de 70. Eu usei muito.
Em
paralelo ao meu trabalho como artista eu tive um emprego, depois
de casado, para manter minha família, porque nunca vendi obras
de arte. Trabalhei no Hospital Agamenon Magalhães, em Recife,
e não me deixei burocratizar, apesar de trabalhar no setor
burocrático. Ao contrário, eu subvertia os lugares
onde estava. No hospital o operador de radiologia era um amigo escultor,
Ypiranga Filho. Na hora do almoço a gente se trancava na sala
de radiologia pra ninguém ver; apenas notavam que estava se
consumindo uma quantidade de chapas radiográficas muito grande.
Eram experiências onde Ypiranga ficava batendo radiografias
minhas; são estes trabalhos aqui – Auto-radium-retratum -,
que é minha caveira rindo. Fiz Radium-poemas, fiz Sentimentos,
um poema feito com coração, que é meu eletrocardiograma.
Um neurologista amigo meu que tinha voltado da França me emprestou
uns livros; eu ia ao consultório dele uma vez por semana e
fazia experiências com elétrons. Começava com
pensamentos suaves, ia até os mais terríveis, e assim
o gráfico ia transformando meus pensamentos em desenhos. Desse
material eu fiz um vídeo e um Super 8. As propagandas de laboratório,
que eram belíssimas na época, eu aproveitava em colagens
de poesia visual. Como a palavra arteriosclerose tem arte,
então eu cobria algumas de suas partes, por exemplo. Tenho
também umas poesias sonoras; entrei um pouco na área
de música
experimental trabalhando com a dor dos pacientes
do hospital. Apresentei este trabalho no espaço de música
livre com uma múmia. Eu via os corpos mortos serem enrolados
em lençóis, como múmias embalsamadas. Aprendi
a técnica de enrolar com lençóis e apresentei
o trabalho baseado nestas experiências vividas no hospital.
Paulo,
você está aqui com uma reprodução
quase exata de seu atelier. Como você situa esta sua participação
na Bienal?
Foi uma proposta do Alfons Hug (curador da
Bienal). Ele
esteve no atelier em visita, entrou em cada espaço, andou,
andou e não deu uma palavra. Aí ele chegou nesta mesa
aqui na sala, virou pra mim e disse: ‘eu tenho uma proposta
a lhe fazer, que é levar isto tudo para a Bienal’. Pra
mim foi uma proposta ousada dele, e como eu gosto de coisas ousadas
aceitei essa experiência. É uma coisa inusitada, porque
veio tudo. Acho legal esta proposta porque coloca o público
em contato com o processo de criação do artista, além
muitas obras minhas estarem aqui. O contato com a intimidade do atelier
do artista é muito interessante nesta parte educacional. Como
o Alfons ressaltou, o artista tem que pesquisar muito; não
existe essa coisa da inspiração vir, de ‘baixar
o santo’. Isso é bom para que as pessoas vejam que o
artista tem que ler, ser bem informado, até para não
trilhar por determinados caminhos já percorridos. Embora eu
agradeça a todos os artistas que trabalharam na minha área
e vieram antes de mim, de todos os movimentos. Sou influenciado por
tudo que veio antes de mim. Tem artista que parece que caiu do espaço
sideral assim, numa cápsula, completamente isolado de tudo.
Eu não,sou o contrário. Eu vim de tudo o que veio antes
de mim.[Voltar]
Nesse atelier tem algo muito particular: uma das maiores
coleções de livros de artistas do mundo.
Não
só de livros de artistas. Eu conheço os
arquivos que existem no exterior porque eu freqüentei, eu visitei.
Principalmente os da década de 70, que passou em brancas nuvens.
A crítica passou à margem, os museus também.
Toda a produção desse período está nas
mãos dos artistas. Tenho obras de todos os meus contemporâneos.
Só de livros de artistas eu tenho cerca de 1 mil, de obras
originais a edições únicas. Tenho a única
edição do suprematismo de Malevich, tenho Rauschenberg,
Beuys, Meret
Oppenheim, e Helio Oiticica, Mira
Schendel, Barrio e
Gerchman. Artistas do Brasil e do exterior. Tenho dos dadaístas
obras originais, do futurismo tenho a voz de Marinetti, Balla e outros.
De videoarte eu tenho toda a história do Brasil e do exterior.
Poesia sonora, tenho futurismo russo, italiano e polonês.
Pretendo
disponibilizar isto ao público, estou tentando.
Muita gente vai pesquisar no atelier, até do exterior. Amanhã será defendida
uma tese em Porto Alegre sobre arte-correio. A autora é Andréia
Paiva Nunes, uma menina que esteve em Recife pesquisando. Do exterior
vem gente pesquisar sobre eletrografia e arte-correio, porque eu
tenho um dos maiores acervos do mundo. Do pessoal do Fluxus, que
mantive muito contato, inclusive pessoalmente com vários integrantes
como Ken Friedman, Dick
Higgins e o John Cage, eu tenho cerca de
300 obras originais. Até hoje eu tenho contato com Shozo
Shimamoto,
do qual eu tenho umas 100 obras mais ou menos, inclusive livro de
artista tenho um exemplar feito especialmente pra mim. De Murakami tenho alguns desenhos e de Christo também, porque eles participaram
de uma exposição de artedoor, a primeira realizada
em nível internacional em Recife, com quase 200 outdoors de
artistas de uns 50 países, em 1981/1982. O David
Hockney e
outros artistas participaram de eventos que fiz. Criei com alguns
deles um relacionamento mais estreito de discussão de conceitos.
Este
acervo, incluindo os recortes, hoje chega a 70 mil itens. Um pessoal
de uma empresa de informática de Pernambuco e da Biblioteconomia
da universidade está ajudando a fazer um levantamento. É um
estudo para ver se alguma empresa banca o custo de digitação,
que seria feita por estudantes, para informatizar este material todo.
Inclusive é preciso passar estas fitas K7 de poesia sonora
para CD e evitar a deterioração. O acervo é muito
amplo nas diversas mídias, livros de artista, filmes, projetos,
propostas.
Quando o público chegar aqui vai ver no atelier
obras de terceiros, além de sua obra. Quais são suas
dicas para que o público possa apreender melhor este espaço?
Cada
espaço tem sua memória, embora todos eles estejam
entrelaçados. Não é possível aqui na
Bienal fazer uma pesquisa nele para consulta, mas desde já disponibilizo
este acervo para quem quiser; sempre o disponibilizei. Em todos os
espaços dele há obras minhas e de outros artistas.
Eu nunca me preocupei com esta separação, é tudo
misturado; o atelier é um todo. No primeiro quarto tem mais
obras minhas porque é onde eu trabalho mais, vou terminando
os trabalhos e os deixando por ali. Em todos os espaços há obras,
até no banheiro; na cozinha eu tinha um fogão grande
de quatro bocas e o material expulsou o fogão; eu o dei e
comprei um de duas bocas. Todos lá em Recife sabem que aos
sábados, neste atelier, me reúno com amigos e artistas,
gente de fora também, pra gente conversar, ver filme, tomar
um negocinho e jogar conversa fora. Tem hora pra começar e
não tem hora pra terminar. Desde os artistas mais jovens até os
de minha geração, o atelier sempre esteve aberto a
qualquer tipo de pessoa e pesquisa.[Voltar]
Você mencionou o aspecto
da ousadia de apresentar o atelier como uma instalação,
ou algo mais do que uma instalação.
Este atelier é parte de sua vida. É como se você estivesse
expondo uma grande parte de sua vida?
Não existe no
meu trabalho uma diferença entre arte
e vida. Não consigo separá-las. Pra mim elas são
interligadas. Achei ousadia não no conceito de expor, porque
o atelier já era uma instalação, e sim no de
trazer tudo. Topei porque gostei, é claro. Aqui está toda
a minha vida, minha trajetória, meu acervo. Pode-se conhecer
meu modo de viver, de produzir, de criar. A prancheta está ali
com as coisas, inclusive eu trouxe os trabalhos que estava desenvolvendo;
vão ficar aqui parados durante a Bienal.
Centenas de
milhares de pessoas virão a esta Bienal
e vão passar pelo seu atelier.
Também achei
legal esta proposta da Bienal ser gratuita - apesar de alguns considerarem
que isto é uma faca de dois
gumes. Mas assim você proporciona um acesso ampliado.
Vai
ser o atelier mais freqüentado do Brasil!
Eu quero ver
como vai ser esta freqüência e ter um feedback.
Vou estar por aqui até o dia 30 e acompanhar de perto. Tem
um grupo de alunos da USP que marcou de vir aqui no dia 28; vou monitorar
a visita e a discussão com eles.
O material desta entrevista
servirá para alimentar os professores
e estudantes em seu processo de mediação na Bienal.
Que questões, além das que você já mencionou,
são importantes para os professores dialogarem com seus alunos
a partir da visita ao seu atelier?
O trabalho sempre em processo. É difícil
apontar uma questão específica porque aqui tem todo
o meu trabalho, tudo que fiz e estou fazendo. Pode-se discutir como
cada artista trabalha, isto é uma coisa que dá para
se fazer. Aqui eu me desnudo perante o público mostrando tudo
que faço,
meu processo de pesquisa, por exemplo. No banheiro tem uma mesa com
rodinhas que criei para trabalhar enquanto estou lá. Na cozinha
procurei congelar o momento em que o curador esteve lá, fotografei
e tentei deixar como estava.
Não é uma reprodução
do mobiliário, é o
mobiliário real.
Sim, é o mobiliário
de lá que veio. Com o arquiteto
da Bienal e a curadoria nós discutimos como ele seria disposto,
porque o atelier é assim mesmo. É pequeno, quando tem
muita gente e um vai no banheiro, dois ou três se levantam
para dar passagem. Nós discutimos a planta do atelier e, por
questões de segurança e do fluxo de público,
resolvemos dar este corte na parede e fazer esta passagem para o
público poder ver melhor. Pensamos em deixar algumas coisas
para consulta com um computador, mas seria um grande risco e problema
para a segurança; então ficou como uma instalação
mesmo. Dá para se ter uma visão geral do atelier e
meu meio de pesquisa e produção, a minha forma de criação
e de vida, porque eu não consigo separar. Eu passo grande
parte da minha vida aqui dentro, durmo muitas vezes aqui no atelier.
Vai
ser uma coisa a volta pra Recife, remontar tudo....
Vai.
Serão três meses que vou passar sem tudo. Eu topei
até pra ver como vai se processar esta experiência.
Foi tudo muito rápido - o caminhão saindo com a mudança
e eu viajando. Não tive tempo de vivenciar o atelier vazio.
Quando cheguei aqui houve a montagem e eu me reintegrei ao atelier,
comecei a vivenciá-lo de novo. Quando retornar é que
eu vou vivenciar o atelier vazio, porque não ficou nada; tudo,
tudo, tudo veio.
Como vai ser voltar tudo pra lá? Pode acontecer
um processo de reavaliação, não é? Este
movimento vai te dar um distanciamento...
Achei muita coisa
que estava perdida. Projetos que eu não
lembrava mais. Nunca tinha parado pra ver o atelier. Com este distanciamento
vou poder vê-lo, porque quando estou trabalhando fico imbuído
do trabalho do dia-a-dia; faz parte de minha vida, não tenho
tempo de fazer este distanciamento. Já tenho refletido sobre
isto aqui em São Paulo. Fora as obras que achei, algumas que
eu não lembrava agora serão incluídas neste
livro que sairá daqui pro fim do ano. É bom dar um
tempo para reelaborar algumas coisas, pensar sobre tudo isto. Acho
que é uma experiência que vai me enriquecer e me acrescentar
muito. E quem sabe até partir pra alguns trabalhos baseados
nisso, desenvolver algo a partir dessa experiência proporcionada
pela Bienal.
Você está feliz?
Estou! Sempre estou
muito feliz com a vida e com as coisas, apesar das preocupações
como cidadão, como ser social.
Estou sempre muito feliz porque eu crio muito e isto me dá uma
felicidade particular. Estou contente de participar da Bienal com
meu processo de criação e mostrar isso sem medo, sem
receio nenhum, pelo contrário, para que as pessoas vejam meu
processo, como eu me desnudo diante de um público tão
grande. Não só para o público, mas para a crítica
e a imprensa.
As pessoas têm muita curiosidade de ver como é o
atelier do artista, como ele trabalha, principalmente um artista
multimeios, que é diferente de pintores que trabalham só com
pintura, cujos ateliês em geral são semelhantes.
Muito
obrigado, Paulo, mais uma vez.
Obrigado a vocês e estou
aqui. No que eu puder colaborar com o projeto e com o pessoal de
arte-educação, estou aqui. [Voltar
ao início] [Versão para impressão]
|