Como você se situa como artista?
Sou
apenas um escultor.[Voltar]
Escultor em que sentido?
No sentido medieval.
Como você se vê dentro
do contexto de seu país
e no atual panorama da arte contemporânea internacional?
Sou
um escultor medieval, gótico, da Idade Média,
no século XXI.
Você considera isso uma herança
européia?
Sim.
Como você situa o seu trabalho apresentado
na Bienal?
É um trabalho que pode abrir novas perspectivas
sobre a relação entre movimento e artes estáticas,
como por exemplo a dança e a escultura.[Voltar]
Você percebe
relação entre o seu trabalho
e o tema da Bienal?
Acho que o tema da Bienal é completamente
abrangente em relação a todos os artistas, que criam
uma espécie
de território livre.
Quais procedimentos ou processos
de trabalho foram necessários
para a construção de sua obra?
Fábricas,
metalúrgicas e uma equipe de serralherias
que trabalha comigo já há 11 anos. Por aqui a assistência
local, com uma equipe maravilhosa, gruas e toda essa infra-estrutura
técnica.
Você desenha antes de construir o tridimensional?
Neste
caso, sobretudo para peças grandes e perigosas, é preciso
ter um desenho rigoroso que corresponde ao projeto técnico.
Sobre
a sua leitura da obra, quais questões este
seu trabalho pode trazer para ampliar a formação
artística e a discussão estética do público,
principalmente o escolar, formado por crianças e jovens?
Acho
que pode ser importante perceberem que há uma forma
de apresentar as coisas que ao mesmo tempo é muito rigorosa
e muito clara, como no caso dessa peça. A estrutura de ferro
pode ser confrontada com a performance da Vera Mantero, que também
exibe rigor e clareza, além de uma grande densidade emocional.
Professores
e mediadores estabelecerão diálogos
entre sua obra e o público visitante. O que você considera
relevante apontar para os alunos?
Eles devem tentar olhar
e ver, porque infelizmente em nossa sociedade, em nosso tempo de
vida, as pessoas têm uma grande escola de
desatenção que é a televisão. Ela faz
com que as pessoas aprendam a não ver, ou melhor, elas olham
mas não vêem. É importante que se estimule a
concentração nesses grupos de crianças e de
jovens; que eles vejam, e não apenas olhem, uma construção
que tem uma intenção estética, ética,
artística e emocional também. Uma intenção
em que nada é deixado ao acaso, nem na coreografia da Vera,
que é milimétrica, nem na escultura, que é igualmente
milimétrica. É importante que, de alguma forma, os
professores e monitores estejam disponíveis para isso e estimulem
os alunos a observarem esses aspectos.
Por que o título “Comer
o coração”?
Porque Robert
Edler von Musil disse que “é preciso
comer o coração da mãe para entender a linguagem
dos pássaros“ e esta era uma idéia com que estávamos
a trabalhar. Mas como o título era muito longo, decidimos ficar
só com “comer o coração” e na evolução
do trabalho também chegamos a um ponto menos sentimental. Era
uma idéia mesmo de comer o coração, uma forma
de acabar com o sentimentalismo mas também de comer o coração
da peça – e é o que a Vera faz, comendo a si própria
e o interior da peça. [Voltar ao início]
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