Como você se
vê como artista?
Eu me vejo como um artista por criar.
O que eu faço é criar
coisas de acordo com o que eu entendo e vejo das coisas. Assim é como
eu me expresso através das criações.[Voltar]
Como
começou sua carreira e seus estudos sobre arte?
Comecei
há tempos atrás praticando arte; no início
eu não sabia que era arte o que eu fazia. As pessoas começaram
a dizer: ‘O que está fazendo?’, ‘É algo
estranho’, ‘Você é artista porque você cria’.
Aí que eu percebi que era um artista, porque o que eu faço é colocar
na parede o que sinto sobre algo.
Você faz esses desenhos
mas não se vê como
um artista?
Eu me vejo como um artista.
Mas há muito tempo
atrás você não
se via?
Ah, sim, há muito tempo atrás, quando
eu era novo, eu não entendia o que eu era. Mas quando eu
cresci, passei a entender que era um artista e comecei a prestar
atenção
no meu talento. Foi assim que começou a minha carreira.
Fale
um pouco sobre seu país e cultura. Quando nasceu?
Onde viveu?
Eu nasci em 1972 e cresci em uma cidade pequena.
Lá não
acontecia muita coisa porque, bem, não havia faculdades. Assim,
poucos indivíduos se viam como artistas; outros ficavam inspirados
por esse e aquele artista e passaram a fazer arte. Era dessa forma
que desenvolviam a parte intelectual e foi assim, também,
que as pessoas passaram a fazer o que faço.
Depois que terminei
os estudos eu não queria parar por ali.
Queria continuar na carreira de artista e mudei para uma outra cidade
pequena, uma cidade turística. Lá conheci artistas
internacionais de diversos países. Eles me mostravam seus
trabalhos, sobre os quais discutíamos, e eu mostrava os meus.
Após
isso passei a me inscrever para workshops e residências
artísticas. Felizmente fui convidado para workshops nacionais
e internacionais. Eu deixei de lado algumas residências para
as quais me inscrevi e fui aceito em uma academia de artes.
Para
onde você foi chamado?
Para Amsterdã, na maior
e mais importante instituição
de artes, o que me deu oportunidade de interagir com diferentes artistas
de diversos países, com culturas e formações
diferentes...
Isso foi um grande passo para mim. Mais especificamente
em artes. Artistas que seguem meu trabalho, contatos e... eu gosto
dos conselheiros (art-advicers) com
quem eu posso agendar um horário para discutir meu trabalho,
ou para falar de trabalhos de outros, apenas para me inspirar e construir
minha carreira.
Uma carreira internacional.
Isso, minha carreira
internacional.
Fale um pouco sobre sua linguagem.
De um jeito sucinto,
o que eu faço são formas simples.
São idiomas independentes. Elas refletem de que maneira entendo
as coisas, como eu me expresso sobre algum assunto. Essas formas
simples carregam títulos, que ao mesmo tempo são o
conceito. Quando comecei este era apenas um idioma independente.
Mas agora eu tento fazer dele um idioma internacional, com o qual
um artista possa ajudar o outro. Olhe para as imagens; elas talvez
venham com algo que faça o trabalho crescer e que talvez o
torne um idioma internacional, universal. Este é minha idéia.[Voltar]
Mas
você usa pintura, desenhos no trabalho... quantos
idiomas diferentes você usa no mural?
Eu usei material
simples para fazer o trabalho. Lápis. Eu
não mudo a forma do meu trabalho com diferentes materiais,
mas eu prefiro esse mais simples.
As linhas de seu trabalho
são bem expressivas e
fortes.
Veja, é necessário energia. É como
se eu estivesse no desenho, não apenas desenhando. Eu faço
parte do desenho também.
Não é apenas
desenhar, é energia,
físico, intenções e sentimentos no movimento
do lápis.
Isso, exatamente.
E qual é o processo ou
conceito? Como você começou
a desenhar desse jeito? Quando e como você começou
esse processo?
Sabe, é engraçado. Primeiro
eu penso no conceito e depois... eu não controlo. É assim:
eu relaxo e deixo o cérebro criar a forma. E me expresso,
como por exemplo: eu chamo essa área do desenho de stick
love. Eu penso
em amor e coloco esse sentimento em minhas formas simples. Eu tenho
que meditar, o cérebro surge com o formato e eu apenas o executo.
Não
tenho nenhum controle. Claro quando eu começo
tenho a forma na minha cabeça e durante o processo ela pode
mudar um pouco.
Durante o processo você começa
a dar o formato, mas você pode mudar algumas coisas. E se amanhã você acordar
com mais raiva, isso mudaria o formato ou não?
Não,
não mudaria.
É a idéia principal?
Sim, o que vale é a
idéia principal. Antes de colocar
o desenho na parede eu faço um rascunho de como ele vai ficar.
Pequenas partes podem mudar, mas não muito.
Quais as
questões você considera importantes
no processo de leitura da sua obra?
Eu acho que a forma
em si é muito importante no meu trabalho.
Meus desenhos e pinturas não são, mas a imagem em si
e o formato são muito importantes dentro do meu trabalho.[Voltar]
O
que mais?
Hmmm... às vezes as cores têm o significado. Às
vezes ele está no formato em si ou nas imagens.
Por
que são formas abstratas?
Porque são o que
eu criei e é algo que não
existe, mas que eu exteriorizo e se tornam real, realidade.
Mas
quando tornam-se realidade o sentido de abstracionismo fica de lado?
Sim,
meus desenhos não são, na maioria, com histórias,
como fazia meu avô, mas carregam títulos. Mas, dependendo
do que surge, as imagens contam uma história sobre o que o
meu trabalho parece e o que ele é.
Por que está dentro
de você e aí você o
coloca no mundo real?
Torna-se público. Não
pertence mais a mim, mas ao público.
É assim
que ele se torna real?
Torna-se algo real que as pessoas
podem usar para discutir ou pensar sobre, ou talvez para desenvolver
alguma idéia sobre a maneira
que pensam ou enxergam algo.
E você acha que isso é uma
passagem, uma grande passagem?
Eu gosto dessa obra. Gosto
muito. Eu gosto do formato da parede e onde está localizada. É uma
idéia muito interessante.
Você veio aqui antes
para escolher esse espaço?
Não, antes de eu
vir eles enviaram fotos desse espaço.
Eu adoro paredes desse estilo.
Essa é uma peça
específica? Você pensou
nessa forma a partir dessa parte do prédio?
Sim,
eu pensei sobre o espaço e o que eu colocaria nele
antes de chegar.
Você pintou essa peça em outro
local?
Não. Eu deixei um grande espaço para
separá-la
porque poderia confundir o público. Se eu a colocasse junto
com outras eles não saberiam diferenciá-la.[Voltar]
[Versão para impressão]
|