Apresentação
Entrevistas
Biografias
Glossário
Bibliografia
Imagens
26ª Bienal
Ficha Técnica
Versão completa para impressão
 
Site da Fundação Bienal de São Paulo

CHEN SHAOFENG

Biografia
Sobre o artista
Sobre a obra
Leitura do artista


Como você se situa enquanto artista?

Acho que sou um artista moderno. Na filosofia chinesa de arte a “obra” é composta do artista, do trabalho propriamente dito e do relacionamento com o público. A arte contemporânea é uma arte conceitual e eu tento refletir todas estas idéias. [Voltar]

Pintor, essencialmente?

Não acho que eu seja só um pintor. O material que uso é de pintura, mas penso e faço arte moderna. Não me importo com o que dizem sobre que tipo de artista eu sou. Sigo o meu coração.

Como você se vê no contexto do seu país e da arte contemporânea hoje?

Vejo muitas notícias na televisão e nos jornais sobre exposições. Acho que a arte moderna tem muitos estilos diferentes. Hoje, normalmente, as pessoas acham que a arte ocidental é mais importante, mas não concordo com essa visão. Artistas que fugiram da China para acompanhar a arte ocidental não têm futuro, não irão muito longe. Cada país é diferente, constrói suas próprias experiências, e sua arte também é diferente. O meu trabalho também é assim; busco uma prática nova.

Novas maneiras de fazer arte?

Isso, de inventar uma idéia nova. Artistas modernos querem mostrar somente seus estilos próprios, querem se mostrar. Ficam centrados em si mesmos. No trabalho deles a emoção fica longe. Eles não se encontram na obra. Acho isso muito chato, por isso decidi ir àquela aldeia chinesa fazer este trabalho.

Quais as relações da sua obra com o tema da Bienal, Território Livre?

Gosto deste trabalho na Bienal, mas não acho que ele seja somente meu. É de muitos, pois em função dele tive que mobilizar várias pessoas, chineses, camponeses. Foi um trabalho grande. [Voltar]

Quantas pessoas?

Foram 500 pessoas. Mas na Bienal serão expostas mais ou menos 100 pessoas.

Você pintou 500 pessoas no total?

Sim. Este trabalho é grande, e como envolve muitas pessoas o poder da obra é grande. E ele não trata só de arte, arte pura; esta é uma atividade social. Acho que a pintura do camponês está no mesmo nível que a do artista, não é diferente.

Como você fez estes trabalhos? Vejo estes cavaletes um de frente para o outro...

Em 1993 fiz um trabalho sobre camponeses somente com desenhos. Antigamente, na China, o camponês não tinha nenhum documento formal; só pessoas da cidade podiam ter documentos. Queria que estes desenhos fizessem conexão com a questão da documentação, demonstrando que o camponês é especial. Então fiz com que os desenhos possuíssem todas as informações sobre o retratado: imagem, nome, idade. Essa também é uma coleção sobre a vida dessas pessoas.

Em 1996 retornei à mesma aldeia para expor os trabalhos. Queria ver se a vida das pessoas retratadas havia mudado.

A arte moderna da China não se importa com os camponeses apesar de a China ser um país agrícola onde 80% da população vive no campo. Por isso acho muito importante retratá-los.

Na China 80% da população é camponesa e só quem vive na cidade tem documentos?

Hoje os camponeses têm, mas com dificuldade. E nem todos os que moram na cidade têm documentação. Quando comecei a pintar as pessoas tive de mostrar aos políticos quem eram elas. No início os camponeses não entendiam que eu iria fazer arte, eles não gostavam de mim (risos)... Depois se acostumaram, passaram a gostar. E receberam minhas influências.

Você os ensina a pintar?

Ensino aos jovens e também aos adultos que têm interesse.

Você é professor nestes momentos?

Meu tempo é dedicado principalmente à criação, mas também já dei aulas.

Mas ensina técnica de pintura, mistura de cores...

Sim. Em 1996 os camponeses começaram a pintar as telas. Eles me desenhando, e eu a eles.

Simultaneamente, um de frente para o outro?

Sim. Um sentava-se na frente do outro e começava a pintar. Antes de 1996 só eu desenhava, aí pensei nessa idéia deles me pintarem e assim começou o trabalho. Foi um processo natural, espontâneo, uma forma de lhes “pagar minha dívida”, de compensá-los pelo que eu aprendia vivendo entre eles.

Isso aconteceu com as crianças também?

Sim. Morei nesta aldeia bastante tempo e aprendi muito com elas.

Qual o nome da aldeia?

Província de Hebei, cidade de Ding Xing, vila de Tiangongsi.

Sobre a obra que você está apresentando na Bienal, quais questões este trabalho pode trazer para ampliar a formação artística e a discussão sobre estética em arte com o público, principalmente o escolar, formado por crianças e jovens?

Acho que os visitantes terão de pensar sobre a arte moderna. Já ouvi uma pessoa falar que passou a olhar de forma diferente a arte, a China, depois de ver o meu trabalho, que se baseia nos princípios da paz e da democracia. Mudou a idéia tradicional do visitante.

As pessoas deveriam ter novas idéias sobre a arte moderna. Quero apresentar novidades em meus trabalhos para o público. No passado só o artista retratava, criava a partir da vida. Agora, através deste trabalho, as expressões destas pessoas estão expostas aqui, nessa instituição. Uma parte deste trabalho não foi feito pelo artista; foi produzido por pessoas comuns. Então, para que precisamos de artistas agora? Atualmente não precisamos mais deles, pois qualquer um pode pintar. Antes somente o artista era “deus”, mas quero questionar essa idéia. Qualquer pessoa também é “deus”. Quando a pessoa é influenciada pelas idéias antigas, acha que o artista é “deus”. Elas mudam de idéia quando percebem que também podem expressar-se, pintar como o artista. [Voltar]

Agora você está pintando as pessoas de São Paulo. Quem são estas pessoas?

São Paulo é um lugar que mistura todo tipo de raça. É muito interessante. Brancos, negros, índios, orientais... quero pintar todo tipo de pessoas aqui.

Onde você pretende mostrar estes trabalhos? Já tem previsão?

Vou pintar cerca de 20 paulistanos e fazer uma exposição aqui na galeria da Rua Augusta, 664. Há pessoas que encontrei na rua; outras vieram à galeria para fazer este trabalho.

As pessoas estão pedindo para pintar?

Sim. Acho que diante da arte todas as pessoas são iguais. Elas podem apreciá-la, ficar alegres. Antes, nas cabeças das pessoas, os artistas ficavam no alto, eram famosos, distante da vida dos outros. Eu agora quero me aproximar, reconhecer as pessoas novamente. A pintura é um meio de expressão comum entre nós. Essas pessoas também conseguem fazer coisas que os artistas não conseguem. Quando elas terminam de pintar e estão limpando o material, dão-se por satisfeitas. [Voltar ao início][Versão para impressão]

ARTISTAS
Beatriz Milhazes
Eduardo Kac
Esterio Segura
Ivens Machado
Luc Tuymans
Melik Ohanian
Paulo Brusky
Paulo Climachauska
Pablo Siquier
Rui Chafes
Thiago Bortolozzo
Vera Mantero
Victor Mutale
Xu Bing