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Perguntas para Hug

O curador da 26ª Bienal de São Paulo, Alfons Hug

 

Dando bis na curadoria geral da Bienal de Artes de São Paulo – que será realizada de 25 de setembro a 19 de dezembro, no Pavilhão do Ibirapuera –, o alemão Alfons Hug diz que a segunda vez está sendo bem mais fácil. Ele teve mais de dois anos para pesquisar, estudar e formar uma equipe “muito competente, leal e dedicada”. Esta 26.ª edição da mostra internacional vai reunir 80 artistas dos cinco continentes e representações nacionais de cerca de 60 países sob o tema Território Livre. O que se pretende discutir é se e como as formas da terra de ninguém (espaço em que a realidade e imaginação entram em conflito) repercutem na arte. Essas formas, numa definição resumida do curador, são as devastações do mundo real e das relações interpessoais.

O fato de o senhor estar na curadoria geral da Bienal por duas vezes seguidas significa que pode dar continuidade a um projeto curatorial?

Mudou o projeto curatorial em vários sentidos: o novo tema não tem relação com o antigo, portanto a lista dos artistas convidados não se refere a cidades específicas, como no caso das Icnografias Metropolitanas, na última Bienal, se não abrange o mundo todo. Serão 80 artistas dos cinco continentes convidados pela curadoria. Os brasileiros não formarão mais um núcleo à parte, como no passado, mas entram na lista única dos convidados que vai de A a Z. Com isso, a arte brasileira passa a integrar melhor o conjunto da Bienal. O que se mantém são as já tradicionais representações nacionais, de aproximadamente 60 países do mundo todo, com curadoria e financiamento das nações convidadas. É um só artista por país. Alguns países investem US$ 100 mil ou mais no seu artista o que possibilita trabalhos bastante complexos. Em geral, o tema da Bienal foi bem aceito pelos comissários nacionais e se estabeleceu um diálogo produtivo com eles, o que justifica a mistura, no pavilhão, dos artistas convidados e das representações nacionais. Vamos evitar guetos. Muitos artistas e curadores dos países estão visitando a Bienal neste momento para conhecer o prédio e a cidade e para poder desenvolver projetos site specific.

A edição de 2002 reuniu 190 artistas de 70 países com orçamento de cerca de R$ 18 milhões. A 26.ª custará R$ 22 milhões. O que encareceu esta versão?

O que encareceu foi a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar e ao euro. Ademais, os trabalhos estão cada vez maiores e mais complexos, o que aumenta o custo de produção.

Os trabalhos dos 18 brasileiros selecionados têm algum ponto em comum?

Tentei juntar posições diversas do ponto de vista do material e do suporte usados. Mesmo assim, acho que o forte da arte brasileira está na escultura e na instalação. Serão 5-6 artistas do Rio, 5-6 artistas de São Paulo e 6 do resto do Brasil, o que corresponde à situação real da produção no país. São quase todos inéditos, com exceção das salas especiais. Do Rio são: Lívia Flores, Rosana Palazyan, Cabelo, Chelpa Ferro (esteve na 25.ª), Artur Barrio (sala especial) e, talvez, mais um. Haverá ainda um brasileiro no segmento de representações nacionais.

Já é possível perceber alguma tendência na produção contemporânea?

O que se observa mundialmente é o retorno da pintura, tanto abstrata como figurativa, e muitas vezes site specifi e em suportes inusitados. Na medida em que surge a pintura, diminui o vídeo, uma tendência que se fará perceber na Bienal.

A fotografia continua sendo o ponto forte das bienais internacionais. A que o senhor atribui o fato de tantos artistas de linguagens e gerações diferentes estarem recorrendo a ela como meio de expressão?

É verdade que a fotografia continua no auge, e a Bienal levará em conta isso com artistas de diferentes países. Haverá também um núcleo de fotografia africana. A fotografia atraiu a atenção dos artistas plásticos por possibilitar abordagens inusitadas de temas cruciais da arte, como a vida íntima das pessoas, a paisagem (principalmente no caso dos alemães) e de cenários urbanos. Ela é apta a criar imagens profundas com forte impacto estético, que vão na contramão da onda de imagens superficiais e comerciais que tendem a inundar o mundo moderno.

Obs.: A entrevista do curador da Bienal foi publicada no Jornal do Brasil do dia 2 de março